quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Palavra e utopia

“Palavra e utopia”, é um filme que traduz de um modo geral, mas de forma abrangente, a vida e de Padre António Vieira, bem como as suas obras e a sua intenção quando decidiu partir para o Brasil inclusive todas as acções que por lá realizou.
A retórica presta-se a convencer ou persuadir uma audiência a respeito de assuntos sobre os quais não existe resposta ou solução clara. Vieira consumiu a vida nessa refrega, condenando a escravidão dos índios da sua época (século dezassete) em que isso parecia absolutamente natural e enriquecendo com posições corajosas o debate da sua religião (católica). A defesa da ilusão (utopia) de implantar o céu na terra mediante a evangelização e a minoração do sofrimento alheio colocou-o na mira da inquisição Portuguesa e dos potentados colonizadores. Ao mesmo tempo, construiu uma obra literária esplendorosa, que levou Fernando Pessoa a chamá-lo de "imperador da língua Portuguesa".

A dimensão bela da palavra fica ainda mais clara, por contraste, na comovente cena final, da morte de Vieira. Acabado a aflição verbal exuberante (às vezes mais luxuoso que o necessário, mas ainda assim magnífico), impõe-se o silêncio, apenas cortado pelas badaladas de um sino. A comprovação de que "tudo é vento e fumo" ecoa ainda em nossos ouvidos, como se o jesuíta (Vieira) ainda tivesse algo a dizer sobre esse mundo em que vivemos, quatro séculos depois. Síntese e insignificância, talvez seja essa a oposição que melhor explique o lugar de “Palavra e Utopia”.

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