sábado, 14 de novembro de 2009

Poema à moda de Caeiro

Vou entrando floresta dentro,

Na esperança de encontrar algo que ainda não conheça.

Vejo toda aquela já minha conhecida vastidão,

E sinto-a,

Como se fosse a minha vida.

Por entre folhas e ramos,

Atravessam pequenos feixes brancos.

Nada alteram,

O branco como branco que é,

Em nada altera o que vejo.


Não vale a pena procurar nada,

Tudo o que aqui existe, eu vejo.

A natureza nada me esconde,

É só preciso eu querer ver o que ela mostra.


E é o que ela mostra

Que me faz não pensar.

Apesar de nada de novo eu sentir,

Sinto o que já outrora senti,

E nunca me arrependerei de sentir.

O que aqui encontro

Noutro local posso encontrar.

Sem razão para nada existir,

Aqui eu sinto algo diferente.

E sinto-o,

Porque estou aqui.

A natureza é a natureza,

Não passa disso.

Eu sou eu,

Nada mais sou.

Eu observo-a,

E ela deixa-se observar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Comentário à frase:

“Além de ser uma réplica do realismo irónico queirosiano (…) o realismo lírico de Cesário Verde será o seu esforço de autenticidade anti-retoricista, “com versos magistrais salubres e sinceros””.
À semelhança da prosa Queirosiana, também a poesia Cesariana floresce do realismo. O realismo, baseia-se, neste caso, numa primeira descrição da realidade (muito investigada por Cesário), partindo posteriormente para um olhar crítico. Nesta mesma realidade, as personagens são influenciadas pelo meio que as circunda, traduzindo uma ideia do naturalismo presente na época. A captação da realidade, é feita tanto por Eça como por Cesário, de um modo impressionista, sendo muito mais explorada por Cesário que por Eça. Cesário, capta o real através de impressões como a cor, a luz, o movimento, etc. Os poemas de Cesário, estão inteiramente ligados à pintura, uma vez que a sua escrita pode ser quase que desenhada sobre uma tela, devido à abundante descrição.
Cesário, articula o real captado com as emoções e / ou sensações, isto é mistura-os de tal maneira, que a sua inexistência não teria qualquer sentido. Cesário reflecte subjectivamente o que observa, a realidade, fazendo uma crítica social à época em que viveu. Cesário, ao analisar criticamente a sociedade, expõe nos seus poemas, a sua solidariedade com os trabalhadores, especialmente os rurais, e defende os mais pobres.
Cesário, opõem dois espaços, a cidade e o campo. Transmite-nos através dos seus poemas que defende que na cidade a existe uma imensa imitação dos estrangeiros, como ele próprio fez com o parnasianismo, uma exagerada arrogância bem como indiferença, frieza indiferença, futilidade, corrupção e associado ou não à poluição a doença. Quando fala do campo defende o contrário, associando-lhe o bem, ao contrário da cidade que detêm os maus aspectos.
Cesário, inova na língua portuguesa, utilizando uma perfeição formal, uma linguagem maleável da captação do real. Nos seus poemas, utiliza uma regularidade a nível das estâncias, um vocabulário expressivo, recorrendo às metáforas, e às sinestesias. Este modo de escrita inovador e pioneiro em Portugal, nasceu em França, representando a realidade em cores e formas. Nos poemas de Cesário, observa-se na sua objectividade dos temas, na expressão literária perfeita e precisa quanto à forma, voltando assim os seus poemas para a realidade, para o objectivo, inspirado na realidade, deixando o subjectivo até então praticado, deixando sempre de parte o entusiasmo pelo assunto. Nota-se em Cesário traços realistas, despertados pelo gosto da análise, nitidez e precisão.


sábado, 28 de março de 2009

Menina e moça de Bernardim Ribeiro

“Menina e moça”, um romance de Bernardim Ribeiro, editado três vezes no século XVI, com três títulos diferente. Em 1554 foi editado com o nome de “História de menina e maça”, em 1557-1558 “Saudades” e em 1559 a partir da 1ª edição, incluindo uma segunda, um prolongamento, que apenas se aceita ser do autor até ao capitulo XXIV.
O texto agrega ingredientes de uma novela da cavalaria, do romance pastoral e da novela sentimental. O livro inicia-se com um monólogo de evocação de deslocação e de mudança de vida - com uma Senhora, com a qual discute histórias de amores infelizes, que se intercalam ao longo da acção central da ficção.
Lugar e mudança convertem-se em pólos com uma saudade amorosa comum e um fatalismo do sofrimento, que fazem as histórias intercaladas, ex: “Aónia” e “Bimuarder”, “Arima” e “Avalor”, desenrolamentos insistentes de uma mesma e infinita dor de constantes discrepâncias amorosas. Amor, natureza, mudança e distância são as constantes semânticas deste livro. Bernardim, o primeiro na literatura portuguesa a desprender-se relativamente das convenções da ficção contemporânea para assumir o estatuto de narrativa feminina da solidão e da saudade, e de texto de análise decisiva e cuidadosa do sentimento amoroso, na sua faceta de consagração dedicada e dolorida.

Eurico o presbitero de Alexandre Herculano

Nascido em Lisboa, no ano de 1810, tendo vindo a falecer em Santarém, actualmente encontra-se sepultado no mosteiro dos Jerónimos. Alexandre Herculano pertenceu ao grupo dos primeiros românticos Portugueses, inspirado nas novas tendências literárias românticas, que se faziam sentir nos países por onde passou (Inglaterra e França) durante a sua juventude. Devido à falta de meios financeiros, não frequentou a universidade, tendo-se a sua formação cultural na juventude ficado a dever à Marquesa de Alorna, que o integrou num espírito pré-romântico. É obrigado a exilar- -se em 1831, devido à sua envolvencia contra o regime absolutista de D. Miguel, primeiro para Inglaterra, indo depois para França, países de onde trás as novas tendências literárias presentes nas suas obras. Em 1837 torna-se director da revista “Panorama” e dois anos depois das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades. Entre 1840 e 1851 desiludido com a vida política, dedica-se integralmente a trabalhos literários e históricos. Nos anos seguintes fundou dois jornais (“O País” e “O Português”). É eleito em 1855 vice-presidente da Academia Real das Ciências. Herculano inicia o romance histórico em Portugal. Alexandre Herculano, era uma figura a seguir pelos jovens escritores, devido a muitas atitudes que dava a conhecer, do seu carácter e da sua personagem. O seu nome nunca será esquecido, devido ao trabalho quer como romancista quer como historiador. Herculano, como romancista, deixa-nos como obras principais, “O Bobo” (1843), “Lendas e Narrativas” (1851) e “Eurico, o Presbítero” (1844), sendo esta última a sua maior criação literária. E como historiador, Herculano, deixa-nos 4 volumes da História de Portugal, e “História da Origem e Estabelecimento da Inquisição” (1854). Todos os seus textos dispersos por jornais e revistas encontram-se reunidos nos “Opúsculos” (9 volumes).
Quanto a “Eurico, o Presbítero”, é considerada como uma espécie de crónica-poema, ou poema épico em prosa. Herculano debruça-se sobre o período de transição entre a monarquia visigótica e a invasão da península pelos árabes (séc. VIII). A acção central gira em torno dos amores irrealizados de Eurico. Filhos de famílias com origens sociais diferentes, Hermengarda e Eurico estavam enamorados, mas o pai desta não consentiu no casamento. Desiludido, Eurico torna-se presbítero e, como guerreiro, participa na luta contra os visigodos. Transformado em herói, decide libertar Hermengarda, aprisionada pelos árabes. Leva-a até à gruta de Covadonga onde ela acaba por reconhecê-lo após dez anos de ausência. A impossibilidade de realizarem o seu amor leva Hermengarda à loucura e Eurico a entregar-se voluntariamente à morte. Alexandre Herculano pretende evidenciar os malefícios do celibato sacerdotal e fazer uma análise histórica da época a que se reporta.